Este trabalho surge a partir de uma reflexão sobre aquilo que passou a ser o nosso refúgio no contexto de reclusão ditado pela pandemia: a Casa era um Lar através da nossa apropriação, e era por excelência um lugar de segurança. No entanto, partilhar este espaço 24 sobre 24 horas fez cair as barreiras ainda existentes (e necessárias) entre quem cohabita.
Os contornos da casa deixam de ser os contornos do nosso lar, como se dentro da primeira precisássemos de novo reduto de privacidade, quando as agressões externas cruzam as fronteiras julgadas inexpugnáveis.
Lentamente recuperamos os nossos domínios, mas as rotinas antigas vão sofrer alterações. Seremos muitos a trabalhar em casa, simultaneamente, irrompendo limites antes definidos. Mas desejando criar novos limites.
No filme Valhacouto (2020), procurei manifestar esse desejo (figura 70). Foi realizado com os materiais que tinha (restringido que estava à minha casa): uma figura de madeira que fazia parte de um kit de artista com materiais de desenho (que me foi oferecido como piada bem-humorada aquando da minha entrada no presente mestrado), a corda vermelha herdada do trabalho Zig-u-arte (2019) e as maquetes do meu trabalho como designer.
Intitulei-o de Valhacouto, que significa recanto ou esconderijo, que era uma palavra que desconhecia. Tal como desconhecia até à data a necessidade de refúgio dentro da minha casa.
(para ver o vídeo clique aqui)
*Este trabalho foi selecionado como finalista do Prémio Árvore das Virtudes 2021, Concurso de Artes Visuais, organizado pela Árvore – Cooperativa de Actividades Artísticas, C.R.L., estando exposto na mesma de 23 de outubro a 20 de novembro de 2021.