Foi, na sua maior parte, durante as manhãs que me dirigia para a sala de projeto para realizar estas pinturas: colocava a folha sobre o chão e um banco por cima, e ia-a arrastando pelo chão à procura da sombra mais expressiva que era projetada pelo sol ainda a crescer no céu, de modo a que criasse as sombras mais alongadas, que considerei também as mais particulares. Por isso mesmo esta série de Afetodomésticos ganhou o cognome de “Madrugadas”.
Após a primeira sombra delineada, voltava a “passear” com a folha pelo chão, de modo a cria nova sombra que se sobrepusesse à primeira, noutra direção (no que se revelou numa operação muito delicada com o frágil papel de arroz).
As primeiras experiências, sem saber o que procurava e o que acharia, foram em tinta de esmalte em papel de cenário, e a folha “trepava” pelas paredes à procura das sombras (tinha chegado demasiado tarde…), e nas experiências seguintes tive de cronometrar a minha chegada para que fosse pelo chão que o sol expraiasse as suas sombras. Noutros caso, experimentei a luz elétrica providenciada pelos candeeiros do tecto. Até ser mandado para casa pelo primeiro confinamento…