Esta caixa, que na verdade é uma gaveta arquivadora com uma divisória interior deslizante, foi trazida de um edifício abandonado onde jazia desligada do armário de onde um dia fez parte. É um pequeno tesouro salvado que, como todos os outros em minha casa, nela se dispõe também como objeto útil: à entrada, recolhe as minhas chaves e outros haveres que trago nos bolsos.
Por si só conta uma história, dado que o que me levou a consegui-la foi um domingo aborrecido que prometia ser passado futilmente à espera da segunda-feira. Decidi, com dois amigos, quebrar esse tédio, indo juntos explorar uma antiga fiação abandonada, à qual acedemos saltando um muro alto. Juntos percorremos as naves grafitadas, que já haviam sido pilhadas à muito de tudo o que de importante havia.
Importante, para os outros, diria eu, pois para mim esta caixa, um banco e uma cadeira, sovados pelo tempo, constituíram verdadeiros tesouros que saltaram o muro de volta comigo. Por isso, as pequenas “pastas” quei arquivando na caixa contam essa mesma história, de sucessão de tédio, de aventura, de história, de ilícito e de retorno (com o separador a marcar o ponto de retorno de saque às costas), a culminar numa tarde bem passada que redimiu o domingo e nos fez voltar à rotina com outro ânimo.
A estória permanece, porque o objeto também. E vice-versa. O seu valor é por isso este: o de ser um testemunho.