“As plantas que recolhia revelaram-se em si uma espécie de enigma: capazes de nascer entre alcatrão e pedras de calçada, sem qualquer tipo de cuidado ou estima por parte de um cuidador que não existia, em poucas horas todo o seu vigor esmorecia, sendo observável mesmo durante o processo de desenho. As suas caraterísticas alteravam-se minuto a minuto e um desenho “tal como imaginava que devia ser” era uma corrida contra o tempo. Se o tempo urge, então havia que fazer uso da matéria sob todas as formas que esta vai ganhando ao longo do seu (escasso) tempo de vida.
E à medida que se ia fazendo a transição entre as diversas fases das plantas, diferente era o aproveitamento que eu dessas fases fazia, adaptando a cada uma delas a um registo em particular: ora “desenhando” o seu vigor, ora deixando que a mesma se desenhasse através dos seus sucos ainda existentes, ou projetando sobre o seu corpo seco matérias que lhes marcariam as sombras”.
